Tirado e levemente modificado de

The Archery Tradition of China

© Stephen Selby, 1997

Re-printed with permission from
INSTINCTIVE ARCHER
MAGAZINE

Com certeza você já ouviu falar doas arcos turcos, mongóis e coreanos e em especial dos arcos japoneses, o Kyudo e Kyujitsu. Mas falando sério, você já ouviu algo sobre os arcos chineses? O que sabemos desta prática em um país com mais de dois bilhões de habitantes e com uma das historias mais velhas da humanidade?

As fontes mais antigas chinesas são remanescentes de lendas e contos heróicos. em algumas escritas bem velhas se encontram algumas pistas, que nos levam a 3500 anos atrás, nos relatos xamãs da velha china. em tais relatos os xamãs uzavam o arco em seus cultos e rituais para pedir por chuva, melhores colheitas, prosperidade (algo que até hoje feito no Japão com o arco kyudo), e para afugentar os bárbaros do solo chinês. O maior foi o grande heróis 'Yi' que com seu arco derrubou nove sois que estavam secando e queimando a terra assim acabando com uma severa estiagem.

Na antiga corte o arco teve um papel de destaque, representando a realeza, e era uma disciplina obrigatória junto com a música, literatura, aritmética e a escrita.

Mais ou menos por volta do ano 0 da nossa contagem e alunos confucianos transformaram os velhos rituais xamãs em práticas e rituais de tiro, assim transformando o arqueirismo como uma das virtudes confucianas.

Pouco antes, ha uns 2500 anos atrás, a besta foi desenvolvida na china, e com o descobrimento do bronze se foi possível fazer dardos mais pesados e mais potentes. com o desenvolvimento da engenharia a potencia das bestas aumentaram. Isso fez com que o arco perdesse o seu valor e deixasse de ser praticado pela elite, assim virando um instrumento da infantaria ordinária. Tal fato acabou desmistificando o arco e ao mesmo tempo popularizando a prática do tiro com o arco na China. (É de ressaltar que os arcos asiáticos eram bem mais fracos do que os arcos longos ingleses, e que atiravam flechas bem mais leves e portanto tais felchas tinham menor poder de penetração. Com o surgimento das bestas potentes, obviamente que o valor do arco se perdeu, já que paralelamente também as armaduras dos guerreiros ficaram mais resistentes).

A salvação da prática do tiro com arco na China se deve ao surgimento dos hunos e mongóis na Ásia central. Os hunos em cima de seus cavalos eram alvos muito difíceis para as bestas que eram armadas lentamente e mais adequadas para acertar em alvos fixos. O imperador Wu-ling de Zhao, logo percebeu esta fraqueza chinesa, notando a ineficiência de sua infantaria armada com bestas, e re-introduzindo o arco em sua cavalaria. A roupa também foi mudada, dos vestes longos para o casacos curtos dos hunos.

Com o tempo os chineses introduziram a cavalaria armada de bestas. Algo que prevaleceu pelos próximos mil anos.

Durante a dinastia Tang, a imperatriz Wu Ze Tian decretou em 720 DC, que a infantaria e cavalaria armada com arcos deveria ser obrigatório no alistamento dos soldados. Isto criou muitas escolas de arqueirismo nos dando excelentes escritas sobre o assunto que sobreviveram os tempos. Durante a dinastia Ming (1368-1644) e durante a dinastia Qing (1644-1911) o interesse se manteve. Em 1911, o governo chinês, perante as imensas perdas em batalha contra os colonizadores, desativou a prática militar do arco definitivamente.

As técncias de construção do arco chinês mudou pouco desde os dias de Confúcio. Os últimos construtores de arcos chineses datam 1940. O arco era feito de madeira (bambo as vezes) como parte central com chifre de boi na parte interna e tendão na parte externa. Tudo era colado e amarrado com fio de seda e por fim revestidos de uma camada de lacre para mantê-los úmidos. E por fim era ricamente decorado com dragões e outra s figuras e ornamentos, sendo que o punho era envolto de pele de raia ou tubarão. Os arcos eram pequenos, na dinastia Ming tinha um terço do tamanho de um arqueiro. Mas na dinastia Qing, eles se tornaram mais longos chegando a 66 polegadas de comprimento.

O efeito do uso de tal material é que depois de desarmado o arco se envergaria de volta para asua forma em C como amostra a ilustração de um arco conforme Tan Dan-jion.

Na literatura consta várias escrituras mencionando o peso da puxada. em regra não era recomendado puxadas muito pesadas, sendo que para os militares os arcos não costumavam passar das 60 libras, e para uso doméstico os arcos eram muito mais leves. Existiam arcos de até 90 libras, mas eram somente usados para testar a força dos soldados.

A mágica xamã influenciou a forma de tiro prescrevendo que se mantivesse os pés em ângulo reto. Esta postura se manteve até a dinastia Mingo quando se adotou a postura onde os pés ficam paralelos, como é atualmente norma.

Diferente á técnica européia, coreana e japonesa, os chineses atiravam com uma das pernas abertas e flexionada e a outra estendida para a frente. esta postura provinha das artes marciais e era usada porque se acreditava que ela melhorava a respiração e integração da respiração ao movimento da puxada do arco. Esta postura é observada em quem treina artes marciais, de tal forma que muitos falavam em arco e flecha como prática de Qi gong.

Os manuais antigos ressaltam dois elementos:

O 'Gu": manter uma base firme.

E o 'Shen": manter total concentração.

Ambos estes dois princípios se desenvolvem do processo  chamado de 'Gou" (puxada total). Mais abaixo estarei repassando uma descrição da dinastia Ming de como atirar com o arco.

Pintura japonesa amostrando o arco girar na mão depois do tiro

A posição do dedo nas cordas variava um pouco da tradicional usada pelos hunos e mongóis, e depois pelos coreanos e japoneses: olhar na página ‘Sistema mongólico’. Em vez de segurar o dedão com o dedo indicador era usado o dedo anular e o indicador era apontado em direção da flecha e do alvo. Depois do tiro, ambos os braço se abrem conforme a pintura ao lado deixando o arqueiro na posição ideal de pegar a segunda flecha logo em seguida.

Depois da ocupação japonesa da china na segunda guerra mundial, a arte tradicional de atirar com o arco acabou, mesmo com os esforços em vão do governo local em reanimá-la.

Ilustração de Wu Bei Yao Lue
(‘Um esboço de preparatórios militares’ : a teoria do arqueirismo)
por Chen Zi-yi, 1638
 

O Wu Bei Yao Lue é parte das estratégicas e ensinamentos militares da dinastia Ming, utilizado para combater os piratas japoneses em seus mares so a liderança de  Yu Da-you e Qi Ji-guang nos anos 1580.

O livro foi considerado de tremenda importância militar que foi arquivado como secreto pelo imperador Qian Long durante a dinastia Qing.

O livro recebeu várias críticas, em especial de GAo Ying, que o considerava muito simples e primitivo. Mas independentemente das críticas ele é um relato histórico muito ricamente ilustrado.

é interessante notar que os arcos usados mais se parecem com os arcos leves coreanos, do que com os arcos pesados usados pela hunos e na Manchúria.

 


 

O retrato acima amostra a postura clássica militar muito popular nas dinastia Ming e Qing. Tal postura foi por muitos criticado e de fato, dificulta a puxada de arcos mais pesados.

Aqui vão alguns dos termos encontrados escritos na figura acima:

1 O cotovelo encolhido (do braço que puxa a corda)
2 A corda encosta a face direita (o mesmo que no tiro instintivo)
3 A pupila direita no canto interno do olho
4 A pupila esquerda no canto esterno do olho
5 A áxila, a parte interna do cotovelo, e a pele entre dedão e dedo indicador estão no mesmo nível (as assim chamadas três cavidades)
6 O cotovelo está vertical
7 O punho está reto com o peso do arco entre dedão e dedo indicador
8 O dedão pressiona contra o dedo anular e na mesma altura
9 A ponta do dedo indicador deve estar solto e pendurado mas não apontado alem da altura do dedão
10 O espaço entre o dedão e o anular deve ser mantido apertado e firme
11 A puxada final é quando a ponta da flecha atinge o fim do dedo anular
12 A perna traseira e flexionada
13 A perna esquerda e estendida como se quisesse dar um passo
14 Quase que em posição de V
15 Pouco fora da linha de tiro
16 O dedão do pé esquerdo aponta levemente para a direita fazendo com que o tornozelo se projete levemente para a frente