O mundo é muito mais complexo do que podemos imaginar, por isso deveríamos observar cada momento que nem um neném. |
Kime
KIME é a expressão da energia controlada e acumulada (KI) na execução de um movimento, golpe ou exercício. Essa expressão vem de dentro (denominado de AIKI) e não através das cordas vocais. Aiki representa a procura do caminho (DO ou DAO) com a adequada postura espiritual (SHISEI).
AI é o principio do amor, harmonia e adaptação. É no ceder que está um dos grandes segredos do kempo. Nem sempre o mundo é (querer) do jeito como queremos. É na harmonia, no suave, na adaptação que se consegue desviar os mais fortes golpes, é no relaxamento que um golpe realmente adquire toda a sua potencia.
AIKI é se reconhecer, é auto reconhecimento, e através deste auto reconhecimento se consegue paz com o mundo, se adquire harmonia interna. Lao Tse falou: Quem tem força conquista outros. Quem é forte se próprio conquista.
O KIME é expressão do KI interno adquirido através da prática do AIKI. É deixando acontecer e não querendo acontecer que a energia KI se expressa nas nossas atividades, quaisquer que forem. KIME não é o grito que alguns dão durante um kata a determinados passos. KIME é a expressão da nossa energia espiritual no dia a dia.
A harmonia consciente entre AI (amor) e KI (energia, vontade) é o essencial do AIKI e nos possibilita viver em equilíbrio com nós mesmo.
E é no não ser que conseguimos realizar o AIKI.
37. A paz universal
O Tao age não agindo,
mas o universo é criado por ele.
Se o soberano o preservasse,
o mundo por si mesmo melhoraria.
Quando no mundo o afeto (apego) toma forma,
o Tao é denominado e limitado.
A imaculadidade de seu nome é à base do desapego.
O desapego (não ambicionar) traz paz,
e o mundo se próprio organiza.
Comentário:
No momento que denominamos um objeto, nós o limitamos a uma determinada forma, uma forma á qual nós fomos anteriormente condicionados.
Se andarmos de noite pela mata, e vemos algo enrolado no chão, gritamos: ‘‘uma cobra uma cobra.’’ Se depois formos iluminar esta coisa, descobrimos que é somente uma corda enrolada. Nós vivemos igualando o mundo que nos rodeia com imagens (o input) já existentes em nós. O que nós não conhecemos, na maioria das vezes nós ignoramos até a ponte de deixar de enxergarmos. Se olharmos para o mundo como recém nascidos, sem preconceitos, absorveremos o mundo como ele realmente é.
No kempo nós usamos esta mesma técnica perante o nosso adversário. Isto nos possibilita a agir em vez de reagir.
Outrora um aluno pergunta ao mestre:
‘’Mestre, como é que eu tenho de atuar no mundo? Tanto faz o que eu fizer, uns irão achar bom e outros ruim.’’
E o mestre: ‘’Seja imaculado que nem um espelho.’’
O aluno: ‘’Mas como?’’
O mestre: „Não deixando o mal te penetrar, e sim refleti-lo de volta de onde veio." ‘’
O nosso raciocino só reconhece o que ele já conhece. Ele compara o mundo externo com o já existente mundo interno (próprio), e o que ele não reconhece, ele nega. Isto significa que
não só aceitamos o que a nossa própria limitação aceitar, e desta forma o mundo esterno vira o nosso espelho.
O mundo é o espelho de nossa consciência. Quanto mais dependermos de nosso raciocínio, menos seremos capazes de transcendermos as nossas limitações e mais pequeno será o mundo em que vivemos.
Se formos observar uma vaca, nós não a vemos como ela realmente é, e sim, como e sim, a vemos através da imagem á vaca’ anteriormente em nós programada (armazenada). Nós vemos o mundo do jeito como fomos condicionados a vê-lo.
Coisas (objetos, acontecimentos) que nunca vimos antes, não são notadas por nós. Tem que vir uma outra pessoa e chamar a nossa atenção e nos ensinar a ver o que não conhecemos, para podermos ver, mesmo se tal coisa já existir a muito tempo.
O desapego dos condicionamentos deixa nossa consciência crescer e nos possibilitando a ver o mundo como ele é.
(do livro de Sensei Christian Haensell: O Caminho do Tao)
Esta é uma regra imprescindível para todos aqueles que praticam kempo. É no não se apegar no mundo que o KI pode se expressar.